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GAY

A algum tempo atrás fui surpreendido por um pedido pouco comum. Fui convidado a ser entrevistado por uma aluna do ensino médio, estudante do colégio João XXIII mais especificamente, a responder algumas perguntas sobre um assunto que apesar de comum em nossa sociedade, ainda levanta uma tensa fumaça de constrangimento e receio. o assunto era a minha homossexualidade.

Como todos sabem, sou Gay. Tenho uma vida normal e bastante popular em todos os meios, tanto hétero quanto homo. Mas a surpresa foi ser reconhecido, ser procurado para falar de algo que poucas pessoas estariam dispostas a dialogar. enfim, tenho o original da entrevista, espero que gostem da leitura por que resolvi dividir com vocês um pouco mais de mim.

Cristiano L. Batista, tem 24 anos, é homossexual. Morador de Barra de São Francisco aceitou nos conceder uma entrevista.

O que levou você a optar pela vida homossexual?

Cristiano – É perigoso como podemos usar palavras erradas em alguns contextos. Muitas coisas na vida você pode “optar”. O que comer, o que vestir, com quem se relacionar. No entanto, a orientação sexual não pode ser vista como algo que se tem escolha. Pense comigo: quando foi que você resolveu sentir-se sexualmente atraído por alguém? De repente você acordou e pensou, “acho que vou curti homens!”. Acredito que não seja exatamente opção, mas descobrir-se homo afetivo, um termo mais bonito e menos pejorativo para pessoas homossexuais, talvez seja a expressão mais correta.

Agora, respondendo a pergunta, acho que tudo começou no período da puberdade, pelos quinze anos. Antes havia ficado com algumas garotas, só que a química não fluiu. Mas quando fiquei com um garoto foi algo “diferente”, me senti mais a vontade, apesar do frio na barriga e a vontade desesperadora de correr para o banheiro (risos), foi algo muito bom. Mas meu primeiro namorado só foi aos dezoito anos (risos).

 

Como você foi aceito pela sociedade?

Cris – Depois do que a minha mãe iria pensar, isso foi uma das coisas que mais me preocupou.

Na época eu frequentava a igreja. Nos cultos pela manha eu era um dos primeiros a chegar, procurava um lugar mais calmo e reservado para orar. Eu sempre pensava: “Deus, por que eu sou tão ruim? Por que eu mereço o mesmo inferno de assassinos e ladrões? Sou uma pessoa boa, nunca quis nada disso para mim! Eu não consigo compreender” acho que ate hoje não compreendo muitas coisas da vida. Eu sempre esperei por uma resposta. Mas nada acontecia. Pelo menos eu achava que não…

Com o tempo tudo passou a ser mais nítido, o sentimento de confusão sumia gradualmente. Parei de ir à igreja e comecei a pensar uma maneira de conciliar as coisas, Deus e eu. Eu percebi que não haveria forma de “mudar”, precisava me aceitar. A depressão foi maior ainda depois disso, porque saber o que eu desejava definia uma nova etapa agora, mas acabei por escolher a mais óbvia das opções: eu queria ser feliz a qualquer custo.

Para ser breve, me assumi primeiro para alguns amigos, para minha mãe e depois para o mundo (risos). Algumas pessoas se afastaram, outros se aproximaram, tornei mais popular com os ouvintes da radio que trabalhava e por mais irônico que seja me senti mais a vontade com a vida, mais livre e comunicativo.

Essa é uma das coisas que sempre ressalto para meus amigos, gays ou não, ser feliz é ser autor da própria vida, saber escolher e aceitar as consequências e tudo que de bom possa vir delas. Ninguém é responsável pelas alegrias e tristezas de sua própria vida a não ser você mesmo, então não se preocupe com a opinião alheia. Como ela mesma diz, é só uma opinião, nada mais.

E a sociedade? Nunca me preocupei com ela. O preconceito é um touro bravo, se demonstrar medo ele te ataca forma brutal, mas se for seguro de suas ações e souber se comportar, ele vai saber seu lugar. Não parece um bom exemplo, mas tem dado certo (risos).

 

E na vida profissional, você já sofreu preconceito?

Cris – Também não. Mas quando fique pela primeira vez com meu namorado, na época em publico, fiquei receoso do que pudesse acontecer quando chegasse aos ouvidos do meu chefe o ocorrido. Sabe o que aconteceu? Nada. Ou melhor, a minha audiência no programa na radio que trabalhava subiu enlouquecidamente. Acredito que o problema todo de algumas pessoas sofrerem algum tipo de preconceito no trabalho esteja no grau de respeito que ela mesma se proporciona e transmite aos outros. Lembra-se do touro? Pois bem! Aprender a se comportar e respeitar o espaço alheio é importantíssimo para um bom relacionamento. Você pode ser gay e assumido sem precisar ficar esfregando isso toda hora na cara de alguém. Comporte-se como alguém normal, educadamente, eficiente, pontual, etc. Como dizem alguns amigos gays, nada de ficar “dando close” e “fazendo show” (risos).

 

Como é o seu convívio em família a respeito da sua sexualidade?

Cris – Eu estaria mentindo se afirmasse que tudo correu as mil maravilhas. Obviamente no começo foi tenso, principalmente com minha mãe. Conversei primeiro com ela, disse como eu me sentia e como tudo aquilo me magoava.

O maior medo dos pais é a opinião da sociedade, não pela vergonha, mas sim pelas retaliações.

A sociedade pode ser cruel quando se trata de algo novo e que seja contra suas regras. E os pais se sentem impotentes, frustrados, por não poderem – ou saberem como – lidar com a orientação sexual do filho. E como boa parte dos pais e mães, a sociedade atual ainda é regida por regras do passado que moldam os bons costumes.

Isso que digo não é para incutir medo, pelo contrario, da mesma forma que esperamos ser entendidos por nossos pais, devemos entendê-los, afinal de contas, tudo se tornou novo para eles. Mas nunca deixe que sua família saiba dos seus segredos pela boca de outras pessoas. Quando você se abre pra eles esse é um sinal de confiança e boa vontade.

Demonstre a eles que nada vai ser diferente. Você não ira mudar. A sua sexualidade não define a sua personalidade e caráter, mas suas ações. Ser honesto, confiar e compreender. Esses são os melhores conselhos que posso lhe dar.

Quais são as suas perspectivas para o futuro a dois?

Cris – Sempre digo que tenho vários sonhos. Aparentemente simples, de fácil aquisição.

Uma família, alguém que me ame, filhos. Um lar, com gato, cachorro e um periquito (risos). Quem sabe um coelho cinza. Um bom emprego, estudar, coisas que todas as pessoas esperam. Ser gay, homossexual não quer disser quer sou completamente diferente. Você precisaria prestar muita atenção para diferenciar-me dos outros héteros.

Mas espero muito do mundo. Um mundo sem homens e mulheres (risos). Um mundo onde só haja pessoas sem diferença de gêneros, porque o simples fato de ser mulher num mundo machista já é um grande problema.

Também um mundo sem divisões. Que todos sejam iguais e julgados por suas qualidades e méritos, e não por suas escolhas. Um mundo onde eu possa ser feliz sem medo de que essa minha felicidade desperte a ira de alguém. Não estou aqui à procura de confusão, só quero ser feliz. E quem não quer? Esse o nosso único motivo de estar aqui. Sermos felizes. Estou tentando todos os dias.