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A Casa de Vidro

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Sentado na ponta da cama, olhando para os pés. Pedro admirava-os, dizendo a si mesmo como eram bonitos os pés que tinha. Nunca havia percebido quão belos eles eram. Admirou-se também por nunca ter dado importância aos próprios pés. “quantas coisas deixamos passar despercebidas!”. Voltou seus olhou para a parede, logo acima do aparador, um objeto rústico que se tornara serviu quando precisou de um lugar para entulhar seus livros escolares, ficava a peça mais icônica do quarto. Um velho relógio de mogno. Herança de uma tia, morta pelo infortúnio da gripe que a menos de dez anos chacinou uma dúzia de pessoas no prazo de poucas semanas no vilarejo de Corso, a vinte milhas de Albha. Ainda era possível encontrar viúvas lamuriando suas perdas, entre maridos e filhos, pelos muros da cidadela. Odiava ter de olhar para aquele relógio e lembrar de toda dor que o tempo carregava consigo.

Seus duros ponteiros marcavam 23h45. Sabia que aquela era hora ideal. Desculpo-se com seus pés ao calça-los o velho par de botas. Saiu pelo corredor e descerá as escadas com passos cautelosos, como se tivesse medo de pisar em algum ovo escondido por debaixo do carpete empoeirado. Curvou no hall de entrada e seguiu por outro corredor, mal iluminado por solitário abajur, até a cozinha.

A noite penetrava por toda parte inundando a casa de sombras e melancolia, vultos de moveis velhos e o ruído distante dos grilos nas arvores criavam o clima ideal para um triller de terror. Pela janela do corredor pode ver a noite sem luar que consumia o mundo. Ouvi o ronco leve de alguém escada acima. Todos dormiam. Deveria ser rápido e silencioso. Quando saiu pela porta da cozinha e ganhou o quintal dos fundos, olhou para trás a fim de certificar-se de que não fora  visto por ninguém.

Puxou o portão da varanda suavemente até que o estalo metálico soa-se como o disparo de uma arma dentro do profundo silêncio que o rodeava. Olhou ao redor desconfiadamente. Nenhuma viva alma. Continuou o caminho pelo gramado úmido pelo orvalho, até a cerca viva que dividia os quintais entre os vizinhos da outra rua.

Atravessou por uma fenda, escondida entres os galhos do arbusto. Do outro lado, a noite tornava as pequenas luzes do jardim ínfimas estrelas perdidos no imenso cosmo. O vento começara a soprar suavemente trazendo consigo o cheiro suave das chuvas de verão. Choveria logo mais, isso talvez fosse um problema quando estivesse voltando pelo mesmo caminho.

Seguiu pelo gramado vizinho, que de fato parecia ser mais verde do que o seu naquela época do ano, e pude ver o vulto azulado dos anões próximos a uma fonte de tamanho exagerado que ornava o espaço central do jardim, digno de qualquer castelo. Carpas do tamanho de um braço sibilavam entre as águas cristalinas, dançando em movimentos hipnóticos, induzindo qualquer pessoa ao estado zen da alma.

 Daquele ponto a casa de vidro estava a pouco mais de oito metros. Sentiu o coração acelerar, suas mãos suavam e a boca parecia um deserto árido. A língua roçou os lábios rachados. A cada passo parecia que afundava no chão, tamanha a força gravitacional que atraia seus pés. Era como estar caminhando na direção do centro da terra. Para frente e para baixo. O mundo estava sobre suas costas e seu coração pesava toneladas. Iria morrer fulminado caso não controlasse sua ansiedade. Era como se o coração fosse cair e dilacerar seu peito.

Procurava alguma palavra que pudesse interpretar aquele sentimento, mas faltava-lhe um bom dicionário em mãos. Esqueceria aquilo por enquanto, pelo menos não pensaria naquilo enquanto estivesse caminhando no escuro.

Finalmente conseguiu tocar a superfície fria da parede de vidro trás da casa. Seus dedos suados deixaram marcas sobre o espelho transparente. Aproximou o rosto para poder enxergar melhor aquilo que procurava do outro lado. Sua boca criava desenhos quentes sobre a superfície imaculada que desaparecia pela condensação com o frio da noite.

Seus olhos buscavam algo que não estava ali. “Onde poderia ter se metido?”

O barulho de algo caminhando sobre as folhas secas no chão chegou aos seus ouvidos e fez-lhe petrificar. Tem alguém aqui!

– Cuidado com as flores? – uma voz se pronunciou logo atrás dele. Isso o vez saltar e se virar rapidamente para o local de onde a voz vinha. Sentado debaixo de uma arvore, sobre um velho banco de figueira, vestido moletom e algo que parecia um pijama de alguém que já havia morrido há muito tempo, Afonso se encolhia sob os braços que entrelaçavam os joelhos – foram plantadas hoje e minha mãe ficaria possuída se as encontra-se pisoteadas.

Pedro olhou para o chão e percebe do que ele estava falando. Ao redor da casa violetas haviam sido plantadas. Inúmeras mudas. Por pouco ele não pisara sobre uma das pequenas plantas.

– O que diabos você esta fazendo aqui fora uma hora destas? – indagou, sussurrando baixo com medo de alguém o ouvir dentro da casa.

– Gosto de vir aqui quando não consigo dormir – Afonso percebera a aparência alarmada de Pedro – fique tranquilo, minha família esta fora da cidade. – agora estava de pé, descalço caminhando sobre a grama macia enquanto abraçava o próprio corpo. O moletom parecia mais folgado do que antes. – Mas a questão aqui não é o porque de estar do lado de fora, numa noite fria e sem luar. Acho que é outra.

– A é? – retrucou Pedro. Sua aparecia estava mais relaxada. Sentia o leve tremor de suas mãos subir até a nuca. Conteve-se e oprimiu o leve sorriso que começara a se pronuncia no canto do rosto. – E qual seria?

Afonso estacou diante dele e pensou como era alto o rapaz a sua frente. “Quase um homem”, pensou. Teve de inclinar um pouco a cabeça para trás e olha dentro dos olhos de Pedro. Sorriu modestamente e aproximou sua mão do rosto do rapaz a sua frente. A pele jovem com pequenos pontos de barba mal aparada era um carinho único no mundo para Afonso.

– Porque ainda estamos aqui fora?

***

 Pela claraboia Pedro podia acompanhar o bale das nuvens transitar pela noite como fantasmas errantes.

Deitado sobre seu ombro, Afonso o observava com ar curioso, também tentando imaginar o que pela sua cabeça. Sentia o corpo nu arrepiar-se a cada leve toque da mão de Pedro enquanto as pontas dos dedos deslizavam por suas vértebras. A pele de Afonso era suave e macia. Exalava o doce perfume de ervas aromáticas. Haviam se banhados juntos, amando um ao outro. Afonso podia sentir o calor da água sobre seu rosto enquanto Pedro o conduzia em movimentos suaves e contínuos. Abraçados por completo. Pedro prendendo o frágil corpo de Afonso próximo ao seu, encaixados em um molde perfeito. Até mesmo os rostos se encontravam entre beijos e suspiros de prazer.

Ele, Afonso, nunca se entregará a alguém como naquela noite. Na realidade, nunca havia sentido algo tão forte como sentia naquele momento. Tanto o seu corpo quanto o seu coração pulsava impelido pelo amor e a paixão irresistível que ressentirá até o ultimo segundo. Sentir a força das mãos de Pedro o prendendo cada vez mais forte contra o seu corpo rígido e jovial, lhe proporcionava o mais fiel sentimento de segurança que nunca conhecera.

Tomados pelo torpor, adormeciam gradativamente, silenciosos, abraçados um ao outro. A noite seguia peregrina. Discreta. Imóvel. E o amanhecer chegaria em breve, mas desta vez não havia porque de fugir antes do galo cantar. Estavam sozinhos. Imersos em seus sonhos, dentro da casa de vidro.

Imagem do Dia

De todas as belezas do universo, conhecidas e desconhecidas pelos olhos humanos, um pôr-do-sol é de longe o fenômeno mais lindo de todos. Na minha leiga concepção.

Já assisti de tudo pela tevê. Li sobre acontecimentos astronômicos que vão além da imaginação humana. E nem a força de uma tsunami faria meu coração parar como o vermelho/alaranjado do céu numa tarde de verão.

Só loucamente apaixonado e nunca me canso dessa expressão tão singela da vida. Então, a imagem do dia de hoje vai ser esse lindo flagraque tive o prazer de presenciar, fotografado por eu num dos meus momentos de fotografo amador.

Bom fim de tarde a todos!!!