Eu estava com medo. Sentia que a qualquer momento meu coração iria parar e morreria quando aquela porta se fechasse. Meus pulmões inflavam-se rapidamente enquanto das profundezas da minha garganta um resmungo melancólico e desesperado explodia de dentro de mim.
Eu estava no pré-colegial, minha mãe se afastava dizendo que logo estaria de volta pra me buscar, que o dia seria ótimo e eu faria muitos amigos. Mas de tudo aquilo a única certeza era que ela estava me deixando, numa sala chega de crianças que eu nunca havia visto antes, aos cuidados de uma mulher que eu não conhecia.
“O que eu fiz de errado? Porque você está me abandonando?”
Ela se foi.
***
E todas as experiências, todos os momentos da minha vida, nenhum me trouxe tanta insegurança ver minha mãe saindo pela porta da sala e ir embora. Horas depois ela havia voltado, e como o sol, me fez voltar a ser feliz. Eu estava perdido e ela estava ali. Quanta saudade havia nascido em poucas horas de angustia.
Mas o tempo leva embora esse medo e você não se sente mais perdido à medida que cresce. Aprende que muito que fará será sozinho. A costuma-se com o fato de que as pessoas se vão – temporário ou definitivamente. E começa a esquecê-las. Não é algo terrível, é um fato natural.
Mas quero disser algo em especial hoje, só porque o dia é especial e encontrei uma velha fotografia.
Estava entre alguns livros, meio mofada pela umidade do quarto que um dia terei de dar um jeito. Era somente um garotinho, de olhos negros e brilhantes, lábios vermelhos como um corte profundo e um tímido sorriso.
Naquela velha capa de agenda, me vi outra vez perdido e com medo.
Medo de envelhecer. Medo de não ter feito o suficiente. Medo de ir embora, ou medo de ficar. Medo de crescer, literalmente e não caber no berço ou caber nos braços que nos embalaria por horas e horas.
Agora estou aqui sentado, olhando para mim mesmo. Queria chorar, mas de saudade por ter encontrado um velho amigo, mas só sei sorrir. Apesar de tudo que passei até hoje, o meu pequeno menino está aqui dentro pra me lembrar que nunca estarei sozinho.
Nunca.